SUZANA FLAG É NELSON RODRIGUES.
ERA ESSE O PSEUDÔNIMO COM QUE NELSON RODRIGUES ASSINAVA OS FOLHETINS QUE ESCREVIA PARA OS JORNAIS DE ASSIS CHATEAUBRIAND NOS ANOS 40.
"ESCRAVAS DO AMOR" FOI O SEGUNDO QUE SUZANA FLAG PUBLICOU. ASSIM QUE A HISTÓRIA TERMINOU NO JORNAL, SAIU UMA EDIÇÃO EM LIVRO QUE HOJE É ARTIGO DE COLECIONADOR.
ESTA É A SUA SEGUNDA EDIÇÃO 57 ANOS DEPOIS, E SEM DÚVIDA É UMA DAS NARRATIVAS MAIS DELIRANTES DE NELSON RODRIGUES, COM TRAMA, PAIXÃO, AÇÃO INCESSANTE, UM CLÍMAX DEPOIS DO OUTRO E - HOJE, MAIS AINDA - COM UM DELICIOSO SABOR DE ÉPOCA.
ABAIXO UMA PEQUENA DEGUSTAÇÃO:
SUZANA FLAG (NELSON RODRIGUES)
COMPANHIA DAS LETRAS
544 PÁGINAS
FIM DO MEU SONHO DE AMOR
MALU JULGAVA-SE MAIS FELIZ DAS MULHERES; A MAIS FELIZ E A MAIS ENAMORADA. ESTAVA NA BEIRA DA PISCINA, BALANÇANDO OS PÉS, OS BRAÇOS E OS OMBROS CHEIOS DE GOTAS, ABANDONANDO-SE À CARÍCIA GOSTOSA DO SOL. NA OUTRA EXTREMIDADE DA PISCINA DUAS PRIMAS DE MALU: TERESA E SOLANGE, UMA DEZESSETE, OUTRA DEZOITO ANOS. TERESA DE SARONGUE, SOLANGE NUM MAIÔ DE BORRACHA VERMELHO ATIRAVAM ÁGUA NA OUTRA, RIAM.
MALU OLHAVA AS COMPANHEIRAS E NÃO DIZIA NADA. BOM ESTAR ALI, ASSIM,OS CABELOS LIVRES, NUM MAIÔ ULTRA-SINTÉTICO, QUASE INEXISTENTE. TINHA UM PEQUENO CORPO, FRÁGIL, LEVE, ELÁSTICO E BELO. MALU IA SER PEDIDA EM CASAMENTO NAQUELE DIA, DENTRO DE UMA OU DUAS HORAS, TALVEZ JÁ DEVIA ESTAR VESTIDA, PRONTA PARA RECEBER RICARDO, MAS IA FICANDO NA PISCINA EXPERIMENTANDO UMA ESPÉCIE DE FELICIDADE FÍSICA, OS PÉS FRESCOS OU FRIOS DENTRO D'ÁGUA. SUA PELE, NOS BRAÇOS E NAS PERNAS, IA SE ENCHENDO DE CAROCINHOS, E JÁ SENTIA ARREPIOS PERCORRENDO OS CORPO. "ACABO ME RESFRIANDO" FOI MEU COMENTÁRIO ÍNTIMO. QUE VOLUPTUOSIDADE HAVIA NA PREGUIÇA!
-DONA MALU!
UM GRITO VINHA DE CIMA, LÁ DA VARANDA. VIROU MEIO CORPO E VIU A CRIOULINHA, APONTANDO A ESTRADA, A VOZ ESGANIÇADÍSSIMA:
-E VEM SEU RICARDO!
MALU TEVE UM SUSTO E LEVANTOU-SE DEPRESSA. "MEU DEUS DO CÉU!" A CRIOULINHA SABIA, COMO TODO MUNDO, QUE MALU NÃO QUERIA QUE RICARDO A VISSE DE ROUPA DE BANHO, SOBRETUDO NAQUELE MAIÔ, QUE ESTREARA NAQUELE DIA, MAIS OUSADO E MAIS PERTURBADOR QUE A PRÓPRIA NUDEZ.OS OUTROS PODERIAM VÊ-LA, NÃO FAZIA MAL, NÃO SE INCOMODAVA. MAS SEU BEM-AMADO NÃO. QUERIA QUE ATÉ LÁ ELE NADA CONHECESSE DO SEU CORPO, A NÃO SER QUE PUDESSE ADIVINHAR ATRAVÉS DO VESTIDO. ISSO ERA UMA MALDADE INTELIGENTE DE MULHER, UMA MANEIRA DE NÃO SE BANALIZAR AOS OLHOS DOS NAMORADO. ATÉ AQUELE MOMENTO NÃO FORA BEIJADA NEM POR RICARDO, NEM POR NINGUÉM. PODIA DIZER: "EU NUNCA FUI BEIJADA!". E NÃO ADIANTAVA OS COMENTÁRIOS DAS PRIMAS: "QUE É QUE TEM BEIJO? ORA, MALU". SOLANGE IA MAIS LONGE: "BEIJO NÃO QUER DIZER NADA!" MAS A PEQUENA E LINDA MALU PUNHA UMA INTRANSIGÊNCIA FEROZ NA DEFESA DE SUA BOCA: "POIS SIM!"
E AGORA CORRIA, DEIXANDO AS DUAS NA PISCINA; ENTROU EM CASA DESCALÇA, MOLHANDO O ENCERANDO, E FOI DIRETO AO BANHEIRO, GRITANDO DE PASSAGEM: -A TOALHA!
ANTES DE ENTRAR (A CASA ESTAVA CONSTRUÍDA NUMA PEQUENA ELEVAÇÃO DE TERRENO) VIU O AUTOMÓVEL DE RICARDO, FAZENDO UMA CURVA, A CRIOULINHA, GERALDA, VEIO TRAZER A TOALHA, GRANDE E FELPUDA, QUE A COBRIA TODA; PODIA SE ENROLAR NELA, FICANDO APENAS COM OS OMBROS DE FORA. "COMO ME ATRASEI!" ESFREGAVA A CABEÇA E O SENTIMENTO DE FELICIDADE SE FAZIA MAIOR. FEZ TUDO O MAIS DEPRESSA POSSÍVEL, ENROLOU-SE NA TOALHA E SUBIU AS ESCADAS CORRENDO. "MENINA LOUCA", PENSOU DE SI MESMA, ALIÁS GOSTANDO DE SER ASSIM, DE TER AQUELES MODOS, QUASE DE MENINA. "SOU TÃO CRIANÇA, MEU DEUS!" NO QUARTO, DIANTE DO ESPELHO, FOI SE PREPARANDO. D. LÍGIA VEIO BATER NA PORTA:
-JÁ VOU, MAMÃE!
-RICARDO CHEGOU.
-EU SEI!
E, JÁ VESTIDA (ESCOLHERA ATÉ UMA ROUPA DE BAIXO MELHOR, UM JOGO LINDO), OLHOU-SE UMA ÚLTIMA VEZ, SORRIU PARA SI MESMA E TORNOU-SE SUBITAMENTE SÉRIA. SUA BELEZA NÃO CHAMAVA LOGO A ATENÇÃO. SÓ OS QUE A OLHASSEM MAIS DE UMA VEZ PERCEBIAM INTEGRALMENTE O SEU ENCANTO, A SUA GRACIOSIDADE E UMA SÉRIE DE COISAS QUE VALORIZAVAM A SUA FIGURA; A MANEIRA DE RIR, OU SORRIR, A TERNURA DOS OLHOS E DO SORRISO, O ANDARZINHO MIÚDO E DINÂMICO. FICOU PENSATIVA, LEMBRANDO-SE DE SUA FELICIDADE PRÓXIMA. IA SER NOIVA. DISSE A MEIA VOZ, COM UMA TRISTEZA DOCE E SEM MOTIVO:
-NOIVA!
ABAIXO UMA PEQUENA DEGUSTAÇÃO:
SUZANA FLAG (NELSON RODRIGUES)
COMPANHIA DAS LETRAS
544 PÁGINAS
FIM DO MEU SONHO DE AMOR
MALU JULGAVA-SE MAIS FELIZ DAS MULHERES; A MAIS FELIZ E A MAIS ENAMORADA. ESTAVA NA BEIRA DA PISCINA, BALANÇANDO OS PÉS, OS BRAÇOS E OS OMBROS CHEIOS DE GOTAS, ABANDONANDO-SE À CARÍCIA GOSTOSA DO SOL. NA OUTRA EXTREMIDADE DA PISCINA DUAS PRIMAS DE MALU: TERESA E SOLANGE, UMA DEZESSETE, OUTRA DEZOITO ANOS. TERESA DE SARONGUE, SOLANGE NUM MAIÔ DE BORRACHA VERMELHO ATIRAVAM ÁGUA NA OUTRA, RIAM.
MALU OLHAVA AS COMPANHEIRAS E NÃO DIZIA NADA. BOM ESTAR ALI, ASSIM,OS CABELOS LIVRES, NUM MAIÔ ULTRA-SINTÉTICO, QUASE INEXISTENTE. TINHA UM PEQUENO CORPO, FRÁGIL, LEVE, ELÁSTICO E BELO. MALU IA SER PEDIDA EM CASAMENTO NAQUELE DIA, DENTRO DE UMA OU DUAS HORAS, TALVEZ JÁ DEVIA ESTAR VESTIDA, PRONTA PARA RECEBER RICARDO, MAS IA FICANDO NA PISCINA EXPERIMENTANDO UMA ESPÉCIE DE FELICIDADE FÍSICA, OS PÉS FRESCOS OU FRIOS DENTRO D'ÁGUA. SUA PELE, NOS BRAÇOS E NAS PERNAS, IA SE ENCHENDO DE CAROCINHOS, E JÁ SENTIA ARREPIOS PERCORRENDO OS CORPO. "ACABO ME RESFRIANDO" FOI MEU COMENTÁRIO ÍNTIMO. QUE VOLUPTUOSIDADE HAVIA NA PREGUIÇA!
-DONA MALU!
UM GRITO VINHA DE CIMA, LÁ DA VARANDA. VIROU MEIO CORPO E VIU A CRIOULINHA, APONTANDO A ESTRADA, A VOZ ESGANIÇADÍSSIMA:
-E VEM SEU RICARDO!
MALU TEVE UM SUSTO E LEVANTOU-SE DEPRESSA. "MEU DEUS DO CÉU!" A CRIOULINHA SABIA, COMO TODO MUNDO, QUE MALU NÃO QUERIA QUE RICARDO A VISSE DE ROUPA DE BANHO, SOBRETUDO NAQUELE MAIÔ, QUE ESTREARA NAQUELE DIA, MAIS OUSADO E MAIS PERTURBADOR QUE A PRÓPRIA NUDEZ.OS OUTROS PODERIAM VÊ-LA, NÃO FAZIA MAL, NÃO SE INCOMODAVA. MAS SEU BEM-AMADO NÃO. QUERIA QUE ATÉ LÁ ELE NADA CONHECESSE DO SEU CORPO, A NÃO SER QUE PUDESSE ADIVINHAR ATRAVÉS DO VESTIDO. ISSO ERA UMA MALDADE INTELIGENTE DE MULHER, UMA MANEIRA DE NÃO SE BANALIZAR AOS OLHOS DOS NAMORADO. ATÉ AQUELE MOMENTO NÃO FORA BEIJADA NEM POR RICARDO, NEM POR NINGUÉM. PODIA DIZER: "EU NUNCA FUI BEIJADA!". E NÃO ADIANTAVA OS COMENTÁRIOS DAS PRIMAS: "QUE É QUE TEM BEIJO? ORA, MALU". SOLANGE IA MAIS LONGE: "BEIJO NÃO QUER DIZER NADA!" MAS A PEQUENA E LINDA MALU PUNHA UMA INTRANSIGÊNCIA FEROZ NA DEFESA DE SUA BOCA: "POIS SIM!"
E AGORA CORRIA, DEIXANDO AS DUAS NA PISCINA; ENTROU EM CASA DESCALÇA, MOLHANDO O ENCERANDO, E FOI DIRETO AO BANHEIRO, GRITANDO DE PASSAGEM: -A TOALHA!
ANTES DE ENTRAR (A CASA ESTAVA CONSTRUÍDA NUMA PEQUENA ELEVAÇÃO DE TERRENO) VIU O AUTOMÓVEL DE RICARDO, FAZENDO UMA CURVA, A CRIOULINHA, GERALDA, VEIO TRAZER A TOALHA, GRANDE E FELPUDA, QUE A COBRIA TODA; PODIA SE ENROLAR NELA, FICANDO APENAS COM OS OMBROS DE FORA. "COMO ME ATRASEI!" ESFREGAVA A CABEÇA E O SENTIMENTO DE FELICIDADE SE FAZIA MAIOR. FEZ TUDO O MAIS DEPRESSA POSSÍVEL, ENROLOU-SE NA TOALHA E SUBIU AS ESCADAS CORRENDO. "MENINA LOUCA", PENSOU DE SI MESMA, ALIÁS GOSTANDO DE SER ASSIM, DE TER AQUELES MODOS, QUASE DE MENINA. "SOU TÃO CRIANÇA, MEU DEUS!" NO QUARTO, DIANTE DO ESPELHO, FOI SE PREPARANDO. D. LÍGIA VEIO BATER NA PORTA:
-JÁ VOU, MAMÃE!
-RICARDO CHEGOU.
-EU SEI!
E, JÁ VESTIDA (ESCOLHERA ATÉ UMA ROUPA DE BAIXO MELHOR, UM JOGO LINDO), OLHOU-SE UMA ÚLTIMA VEZ, SORRIU PARA SI MESMA E TORNOU-SE SUBITAMENTE SÉRIA. SUA BELEZA NÃO CHAMAVA LOGO A ATENÇÃO. SÓ OS QUE A OLHASSEM MAIS DE UMA VEZ PERCEBIAM INTEGRALMENTE O SEU ENCANTO, A SUA GRACIOSIDADE E UMA SÉRIE DE COISAS QUE VALORIZAVAM A SUA FIGURA; A MANEIRA DE RIR, OU SORRIR, A TERNURA DOS OLHOS E DO SORRISO, O ANDARZINHO MIÚDO E DINÂMICO. FICOU PENSATIVA, LEMBRANDO-SE DE SUA FELICIDADE PRÓXIMA. IA SER NOIVA. DISSE A MEIA VOZ, COM UMA TRISTEZA DOCE E SEM MOTIVO:
-NOIVA!
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