segunda-feira, 11 de abril de 2011

::: TIRO À QUEIMA-ROUPA, MAIS UM MANIFESTO ...

No dia 22 de março deste ano, assistindo ao Jornal da Globo, me surpreendi e fiquei profundamente indignada com a cena de violência que nós, bons brasileiros, somos obrigados a ver depois de um longo dia de trabalho.

Desde então, volta e meia essas imagens me vêm à cabeça.
Esta tentativa de extermínio aconteceu no dia 17 de agosto de 2010 no Estado do Amazonas.

Confesso que a cena de um adolescente de 14 anos sendo humilhado e alvejado por tiros à queima-roupa
nos leva a reavaliar a nossa condição humana.

Algumas perguntas, vez ou outra em nossa vida, podem ser até aplicadas, exemplo:


Por que viemos? Porque, de onde nós já sabemos, vamos combinar...

Eis um dos maiores mistérios do Homem, mas pensando racionalmente, tecnicamente esta pergunta não tem uma resposta concreta.

Mas nós, seres humanos, desenvolvemos uma técnica de convívio e de tolerância uns para com os outros em nossa sociedade supostamente organizada que até certa altura, lá pelos idos de sei lá quando, deu certo.

Evidentemente, hoje, por uma questão de falta de educação – não estou falando só da educação escolar, mas da educação familiar, aquela, que nos dá o norte, que vem de berço sabe? – Pela falta desta educação, as relações humanas estão sendo arruinadas por uma questão comportamental.

Não adianta saber só ler e escrever, e a interpretação do texto como fica? E as vírgulas, pontos, reticências, exclamações, interrogações, etc.?

*Tente esta: Maria toma banho porque sua mãe disse ela pegue a toalha

“Para os curiosos, a colocação da pontuação correta nesta frase aparentemente sem sentido está no final desta página, mas para quem quiser tentar coloque um ponto, duas vírgulas e uma exclamação em seus devidos lugares .”


Porque algumas pessoas têm em seus corações o desejo nefando do extermínio?

Esta é a pior e mais misteriosa de todas, não existe neste mundo qualquer palavra que possa explicar o que leva seres humanos a agir de tal maneira.

Quando Hitler achou que era Deus e montou seu exército, provocando extermínios em massa, levando suas vítimas ao completo holocausto – ressaltando que não concordo com as atitudes hitlerianas e que estou aqui somente traçando um paralelo nos extermínios, para depois não ser acusada de nazista, afinal só por ter o privilégio de pensar, tenho salvo-conduto de discorrer sobre o que eu quiser e até licença poética se me permitir - ele tinha um propósito, que era o de manter sua raça, que ele, em seu delírio mais tênue e nos confins mais remotos achou ser SUPERIOR.

Mas, por mais incrível e absurdo que possa parecer, ele tinha um PROPÓSITO.

Muito de toda a insanidade e sentimento de inferioridade deste homenzinho dá-se somente por uma questão egocêntrica, mas infelizmente ele desprezava a psicanálise e até queimava livros. Podemos esperar o que deste ser tão vil? Ave, Fernando Pessoa, valha-me.

Vendo por este ângulo e comparando com nossa realidade contemporânea e a cena vista esta semana nota-se que existe um grande abismo entre as intenções dos atos. Agora mata-se sem propósito algum -
guardando, em ambos os casos, as devidas proporções e a soma de todos os exageros das cenas a que nos remete este parágrafo.

Impossível neste momento não traçar este paralelo.

Pior do que sentir as dores de levar três tiros, é o medo. Medo por estar acuado sem saber o porquê. É vir em nossas cabeças como flashes de memória toda nossa vida em um segundo e outras perguntas sem uma resposta lógica: MEU DEUS, O QUE FIZ? O QUE ESTÁ ACONTECENDO? E um único pedido: ME
LEVE ANTES DE TER UMA MORTE INDIGNA”. Tudo isso, repito, numa fração de segundos.

Será que é isto o que se pensa diante de uma morte anunciada?

Apesar disso, o rapazinho sobreviveu; ele teve que fugir da sua casa junto com a família e logo depois foram banidos do Estado do Amazonas. O mais irônico é que, apesar de serem vítimas, sofrem ameaças de morte e
foram obrigados a ingressar no programa de Proteção a Vítimas e Testemunhas Ameaçadas chamado de “Provita”.

Com certeza ele carregará por uma vida inteira esta cena em sua memória. Hoje este sentimento é pueril, mas e depois? Quais as consequências psicológicas? Como não ter um olhar desconfiado sobre o mundo? Será que o próximo tiro será disparado agora? O projétil já está engatilhado? Quantos anos se passarão até que este garoto se recupere, até que seu sono e sonhos estejam protegidos pela dignidade e o direito de ir e vir?

Esta possibilidade é o quê? Concreta ou remota?

E os seus filhos? Como não provocar neles um sentimento de comoção, pena e vergonha? Este é um legado difícil de carregar.

São tantas perguntas sem respostas que é difícil não ficar atordoada ou tentar ser lacônica.

O que sei de tudo isso é o que vi nos telejornais e na internet. E o sentimento que fica é o de repulsa por uma corporação de incompetentes, despreparados e raivosos policiais que acham que portar armas significa estar acima do bem e do mal, e o incômodo sentimento de saber o quanto o ser humano perdeu os valores básicos
como compaixão, respeito e amor. E não me importa o que  vida vai negar para estas pessoas, se vai negar dinheiro, amor e saúde o básico para ser digno. Só assim me sentirei vingada, já que não posso fazer justiça com as próprias mãos, olho por olho, dente por dente.

O troço fica visceral, gente.

Que os tribunais feitos para proteger esta espécie reveja o seu julgamento de valores e não tente por meios ilícitos proteger estes indivíduos de responderem por seus atos de barbárie, nos rigores da lei.

Ouvi tudo neste caso sobre direitos humanos, mas acho somente que a indignação não poderá dar a este garoto o alento para que ele ao longo de seus poucos anos de idade tenha forças para completar sua jornada.
 
REVENDO O TÍTULO DESTE MANIFESTO, PODEMOS CHAMÁ-LO DE:

:::TRÊS TIROS QUE SAÌRAM PELA CULATRA, PERDEU ...

*Maria toma banho porque sua. Mãe, disse ela, pegue a toalha!